segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Esta televisão é para surdos que se querem fazer ouvir


Notícias à medidaDesde 2009 que a equipa da SurdoTv trabalha quase sem recursos humanos e materiais, para informar os surdos sobre o que se passa no país, no mundo (através da LGP internacional) e na sua própria comunidade. A programação não é diária, depende da actualidade. O telejornal, designado “Notícias Destaque”, dura meia hora e é normalmente emitido de três em três meses, a menos que haja um acontecimento importante de última hora. Nesse intervalo, são emitidos outros blocos informativos, alguns temáticos. Eventos como o congresso realizado na Universidade Lusófona, a 16 e 17 de Novembro, organizados pelas associações de surdos, têm cobertura garantida.
“Falamos do que se passa na política, na sociedade, na comunidade surda”, explica o director de informação. “Lemos os jornais, procuramos na Internet, e destacamos os temas mais importantes para os surdos”, acrescenta. É como um fato feito por medida. Por exemplo, numa notícia sobre as taxas moderadoras na saúde, são abordadas especialmente as condições em que os utentes com incapacidade igual ou superior a 60% podem pedir isenção do pagamento.
“É como ter um canal temático”, afirma Josélia Neves, professora do Instituto Politécnico de Leiria e especialista em tradução audiovisual e legendagem para surdos. Mesmo que os canais de televisão nacionais generalistas fornecessem todos os conteúdos adaptados aos deficientes auditivos – o que ainda não acontece – a SurdoTv continuaria a fazer sentido, considera. “É uma televisão orientada para uma minoria, respeitando todas as contingências da LGP. O amadorismo faz com que não haja filtros ou interesses e isso é magnífico”, diz a especialista. E vaticina: “Daqui por uns anos, estará ali a história da surdez em Portugal.”
Em três anos, 120 mil pessoas acederam ao site, segundo Fernando Padeiro. Mas os espectadores desta televisão têm de saber LGP para perceber os conteúdos. “Não temos material nem dinheiro para pagar a quem possa fazer a introdução do som, ou a legendagem”, lamenta o director-geral da SurdoTv.
O trabalho que fazem é “completamente voluntário”, explica Fernando Padeiro, que fundou o projecto com a irmã, Alda Padeiro, e Walter Matos. Hélder Duarte juntou-se-lhes pouco depois. A empresa Missão Descobrir – Comunicação em Língua Gestual, que presta serviços de interpretação em LGP e na qual são todos sócios, fornece o único apoio financeiro da SurdoTv.

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