terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Carta aberta ao Senhor Primeiro Ministro (Myriam Zaluar)

Carta aberta ao Senhor Primeiro Ministro (Myriam Zaluar)

1 comentário:

  1. Olhe Myriam
    acabo de ler o seu 'post' e as lágrimas escorrem-me. Sim Myriam, sou homem e choro, de pena, de comiseração e de raiva, aqui em Paris onde vim passar uns dias com o meu filho e nora, Paris onde estive por um curto tempo exilado em 1965 por c ausa da guerra colonial, que acabei por fazer desgostado das intrigas e desunião entre os outros jovens compatriotas exilados.
    Tenho muita pena que o País que quizemos melhor, por que lutámos, sofremos e sonhámos seja esta merda, que este Povo afinal - na sua esmagadora maioria - não preste, seja aquilo que penso e não nomeio. Lutámos muitos de nós, Myriam, por um País mais justo, solidário, tolerante, sem exploração de uns pelos outros (sempre muito menos...), sem opressão (mobbying e outras coisas, que também conheci em certas instâncias da Europa dita democráticas). Conheci com muitos companheiros de luta, que optaram ou divergimos nos caminhos, a PIDE e a DGS (quero dizer a PIDE reciclada), a guerra colonial e suas injustiças, crimes e opressão de cuja participação as Forças Armadas se recusam a fazer a autocrítica - para os seus porta-vozes é sempre a defesa da Pátria... -, conhecemos o PREC e a sua esperança, as suas traições e desuniões.
    Tudo isso Myriam conhecemos, sofremos, ansiámos, supondo que no fim teria sido o preço por uma vida mais feliz não para mim, não apenas para a minha família e amigos, mas para todos. Juro-lhe que nas celas de Caxias, no exílio e na depressão da participação na guerra em Angola era nesse futuro melhor para todos que eu pensava. Tudo teria merecido a pena.

    Por isso lhe digo Myriam, enquanto escrevo directamente no 'post' sem 'editing', triste, com amargura, após 'exílios' sucessivos em África e na Europa nos anos 80, 90 e 2000, que a a sua carta aberta desperta em mim um urgente sentido de solidariedade e a muita pena por sermos afinal impotentes para pôr fim à injustiça e canalhice que campeiam e governam o País que julguei ser o nosso - seu e meu.

    Tenho quase 68 anos, o meu filho não terá qualquer futuro risonho em Portugal - dei-lhe um nome que reflecte a aliança entre o Povo e o MFA -, e a minha filha, apesar das suas múltiplas qualificações, não terá talvez grandes oportunidades no rectângulo extremo-ocidental.

    Um abraço, Myriam, e os votos que finalmente encontre com os seus filhos as oportunidades e justiça que bem merece. Sinceramente.

    Armando Cerqueira

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