No pós 25 de abril desci muitas vezes a Avenida da Liberdade com os meus filhos às costas, já antes andara pelas ruas e avenidas de Paris com o meu filho mais velho. No Maio de 68 fugi à frente dos CRSS mas também os enfrentamos muitas vezes. Hoje, porque em Beja não há sinais de movimento à rasca, fiquei em casa olhando a TVi 24 e a RTN as únicos que até esta hora transmitem directos das manifestações no Porto e em Lisboa (15 h31). A esta mesma hora tambem os meus filhos descem avenidas com filhos às costas. Passaram muitos anos entretanto e, apesar de muitas mudanças e conquistas, voltam sinais concretos de muita injustiça, precaridade no trabalho, novas privatizações, enfim um relançar do mais puro e duro liberalismo. A Alemanhã esta a vencer-nos sem a guerra das armas, desta vez usando a política e políticos vendilhões ...
As reportagens falam de sucesso, número inesperado de participantes, participação maciça, participação de pais, trabalhadores, desempregados e donas de casa por solidariedade. Um porta voz do movimento no Porto fala em Protesto Nacional. Um reformado na Avenida da Liberdade fala de que "as conquistas tecnológicas não podem justificar desemprego e precaridade".
Cravos vermelhos nas mãos de alguns em sinal de esperança e de luta.
A vista global da manif nos ecrans transmitido pela RTN mostra um mar de gente, numa entrevista a uma senhora de sessenta anos que, diz: trabalhava numa empresa que extinguiu postos de trabalho e agora está a fazer um curso obrigada pelo centro de emprego. Muitos pais acompanham os filhos. Um cartaz diz "eu que votei neles agora o que me apetece é matá-los" um outro"Não consigo viver".Tambem muita gente com trabalho em sinal de solidariedade. Um cartaz fala do "fim da boycracia"ou ainda "fim ao desespero". Dominam as palavras de ordem criativas e os cartazes caseiros. Tudo serve para transmitir as preocupações de cada um. Muitos testemunhos e sinais evidentes de desespero nalguns. Outros conseguem dar aquele tom de alegria que fala a canção.
A jornalista fala que a frente da manif chegou ao Rossio, um mar de gente diz ela , são 16 e 25, fala em milhares de pessoas, as vistas globais da manif são impressionantes. A repórter volta a falar de manifestação transgerecional. Pode-se ouvir dizer na boca de muitos que já há muito tempo que não participavam numa manifestação ou de outros, já com alguma idade, dizerem que é a primeira vez que vêm para a rua.
Acabei de falar com os meus filhos. Em Faro a manifestação está muito participada a Avenida 5 de Outubro esta cheia, gente de todas as idades e com as motivações mais diversas como se pode ver nos cartazes como me transmitiram. Desta manif nem uma palavra nas várias televisões.
A manif da "geração à rasca" transformou-se na manif das "gerações à rasca" pode-se ouvir na voz de uma das repórteres comentando muitas das intervenções dos participantes.
E enquanto tudo isto a RTP 1 passa o "portugal no coração" a RTP2 "desporto" a SIC um filme a TVI "Uma canção para ti"...enfim opções. Na mesma hora o dirigente sindical dos professores "prende-os" no campo pequeno enquanto a manifestação ainda não acabou de chegar ao Rossio, num protesto inédito, massivamente participado transgerecional em onze cidades do país.
Duas ou três notas finais;
- os políticos têm de refletir em que medida estão a representar os cidadãos...
- e definitivamente o governo e o PS têm de mudar as políticas sob pena de perder definitivamente o pé por muitos e muitos anos...Quero ouvir 2ªa feira os seus deputados.Onde estão aqueles que ainda se reclamam de socialistas?
- Quero ouvir dos comentadores de serviço e aos políticos profissionais afirmar que esta manif foi manipulada pelo PC ou pelo BE.
-Quero ouvir o "manipulador" e "troca tintas" falar de "boa governação" e "dever cumprido", termos com o qual encheu a boca em Bruxelas e os ouvidos dos seus comparsas.
Esta manif foi claramente a resposta mais adequada a tanta fanfarronice!!! Trezentos mil, em Lisboa, chegam???jr.
Curioso, a 12 de Março de 1945 morria Anne Frank de tifo e inanição, vitíma de uma mesma guerra.