Pedro Passos Coelho ficou com o estigma de ter dito uma tolice. Louçã, Seguro, Jerónimo caíram-lhe em cima. Estigmatizaram Passos Coelho. Mas, sabem?, eu estou-me nas tintas para os estigmatizadores e, até, para os estigmas. O meu problema é a tolice. A tolice dita: "Despedir-se ou ser despedido não tem de ser um estigma, tem de representar também uma oportunidade para mudar de vida." A tolice repetida: "Estar desempregado não pode ser, para muita gente, como é ainda hoje em Portugal, um sinal negativo." E ainda a tolice servida com dose de hipocrisia: "[Os desempregados] perceberão que terão, por parte do Estado, o apoio devido para se prepararem para um futuro." Tudo frases de Passos Coelho, e eu diria que também me estava nas tintas para o estigmatizado que disse as tolices, não fosse a última versão - garantindo "por parte do Estado, o apoio devido" - ser cínica, porque veio de um primeiro-ministro. Dito isto, o problema é a tolice. É que o problema do desemprego não é o estigma - é mesmo o desemprego. É que o problema não é de como se olha o desempregado ou de como ele se sente olhado - é ele não ter uma coisa: trabalho. Não essa ideia, não. Essa coisa. Do que menos precisamos é de um primeiro-ministro armado em psicólogo. Queremos um primeiro-ministro que trate das coisas. Podia começar por isto: arranjar quem lhe corrija os discursos. Sem receio que isso cause estigmas em alguns inúteis.
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